O estresse que adoece e mata








O estresse ou stress é um grande fator de risco para doenças já bem estudado pela Medicina moderna, embora seja inerente à evolução das espécies e ao homem desde os seus primórdios. Raras noções folclóricas gozam de tanta popularidade como a que atribui uma morte súbita ou um ataque cardíaco a um choque emocional, medo, raiva, dor, humilhação, tristeza ou alegria excessiva. 

A expressão popular “morrer de raiva” (metáfora) ocorre literalmente na Medicina. Muitas pessoas, frente a um grande desgosto, ira excessiva, depressão, morrem do coração (infarto, síndrome do coração partido, arritmias malignas). 

Hoje, a Medicina e a investigação científica comprovam os mecanismos e vias potenciais envolvidos nesse processo. Estudiosos ressaltam que o estresse como um conceito psicológico tem sido usado não só com referência a condições ambientais ou psicossociais extremas como também um substituto para o que se poderia denominar ansiedade, conflito, frustração, ameaça ao ego ou à segurança. 

No sistema circulatório, tem havido grande interesse no estudo da correlação estresse-doença cardiovascular. Essa preocupação se justifica pela nítida influência que existe de o estresse agravar ou potencializar diversos fatores mórbidos como aumento de aterosclerose, da glicose sanguínea, do peso corporal, da pressão arterial, insuficiência cardíaca e coronária, arritmias cardíacas e morte súbita. 
O estresse pode ser súbito, agudo ou crônico. 

Numa situação estressante-súbita, podemos ter diversos desfechos como cefaleia, amnésia, insônia, taquicardia, crises hipertensivas, gastrites, úlceras digestivas, depressão, dores musculares, infarto do miocárdio e morte súbita. No estresse crônico, os efeitos e sintomas, por serem mais leves, porém cumulativos, são também bastante deletérios ao organismo. Exemplos desses estressores cumulativos são os desajustes conjugais, as dificuldades financeiras, o transporte urbano precário, insegurança pública, insucesso profissional, baixo poder aquisitivo, desemprego, inflação, noticiário de violência bélica ou urbana, etc. 

As guerras, além de ceifarem milhares de vidas de forma brutal, constituem direta e indiretamente um grande estresse para a humanidade. A simples visão das hórridas e sanguinárias imagens de feridos, mutilados e mortos gera enorme angústia, comiseração e grande sofrimento. Para os combatentes, os civis e todos os profissionais no cenário de guerra, os transtornos fisiológicos e neurocomportamentais são evidentes e têm graves implicações para a saúde física e mental, com sequelas permanentes. 
Médicos e pesquisadores fizeram um importante estudo sobre as causas de morte súbita entre jovens engenheiros aeroespaciais da Nasa (EUA) e pilotos combatentes de guerra. Ao exame microscópico, as coronárias de mortos de guerra mostravam rupturas de células miocárdicas, comprovando que estes vasos estavam hipertrofiados e hipercontraídos cronicamente. Esses profissionais foram vítimas de intenso estresse na vigência de conflitos bélicos. Quando demitidos do emprego por medida de economia, muitos pilotos, altamente especializados, passaram a trabalhar em serviços menos complexos como técnico-eletrônicos. Essa mudança de atividade gerava-lhes grande depressão, frustração e ansiedade, com indução de doenças cardiovasculares e morte súbita. Os principais fatores mórbidos implicados na gênese desses eventos seriam liberação para circulação de elevadas taxas de adrenalina, cortisol, testosterona e outros hormônios com evidentes lesões no sistema circulatório e outros órgãos. Estudos médico-psicológicos de ex-combatentes mostram que a vivência de uma guerra pode deixar graves sequelas psicocomportamentais. Dentre estas, sobrelevam em estatística as tendências ao suicídio, delírios, alucinações, estresse crônico pós-traumático, comportamento antissocial como agressividade, violência, inadaptação sociofamiliar e perda da autoestima. Muitas doenças psiquiátricas podem ser desencadeadas, como a esquizofrenia, transtorno bipolar, síndrome do pânico, depressão, etc. 
Os principais sinais denunciadores do estresse são: apatia, ansiedade, irritabilidade fácil, cansaço físico e mental, hipertensão, palpitações, dores musculares, insônia, cefaleia, diarreia, impotência ou frigidez sexual, náuseas, gastrite, baixo rendimento físico e mental .

Toda forma e grau de estresse devem ser tratados, buscando ajuda médica e psicoterápica. Como dicas gerais no combate ao estresse, sugere-se o seguinte: definir algumas prioridades na vida. Afinal a qualidade e a quantidade (idade) do viver são mais importantes que muitos problemas. Evitar a autoconversação, 

o monólogo ou ruminação de fatos do dia-a-dia. Isto só perpetua o estresse. Sem perder a sensibilidade, procurar mudar o comportamento emocional, evitando o ódio, a hostilidade e a irritação. Não levar questões e tarefas do trabalho para casa. A casa e a família devem ser fontes de prazer, de relaxamento e amor. Procurar uma ocupação fora do trabalho que seja geradora de promoção pessoal e espiritual. Exemplos seriam as atividades físicas, os exercícios de relaxamento tipo ioga, dança e outros do gosto e aptidão de cada pessoa.

Recomenda-se buscar valorizar as relações interpessoais, começando pela família. O amor, seja filial, a um bem pessoal, a um estilo de vida ou conjugal, e a amizade constituem o maior promotor da felicidade humana e fontes de realização, alívio e cura de frustrações, ansiedade, ameaça à autoestima e muitos sofrimentos. Jamais buscar alívio ou solução de qualquer dificuldade na automedicação, em tranquilizantes, antidepressivos, bebidas alcoólicas e outros meios terapêuticos sem comprovada eficácia. 
Além da família e boas relações interpessoais, a melhor orientação seria consultar o profissional de saúde conforme o distúrbio apresentado.

João Joaquim de Oliveira é médico



Clipping do dia:      16/02/2009
Data de veiculação: 13/02/2009 

Fonte: http://abp.org.br/portal/clippingsis/exibClipping/?clipping=8938

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